quarta-feira, novembro 28, 2007

abrigo




Ma vie en Provence

quando tudo parece andar na contramão
sigo para a Provence
onde o cheiro do alfazema
tira meus pés do chão

um campo de flores
simplicidade
terra
odores
sensações que dispensam palavras
minhas sempre palavras
que já não me servem de nada

dia em tom pastel


a pintura é de Egon Schiele


Fuligens

tenho uma ferida aberta
que não sangra
mas corrói

tudo é incerteza
e a dúvida me expõe à dor
gosto amargo na boca, refluxo em nível máximo
e eu sigo
a transbordar de meu pequenino corpo
que sequer sustenta minhas (as)pirações

ulcerações físicas que insistem
em acidular a minha alma

o desânimo me toma por companheira
e o tédio
– o mesmo que acorrentava o cão de Beckett
a seu próprio vômito –
está presente em meio a tanta turbulência

paro o ritmo frenético da labuta
apenas para escrever esse poema-desabafo
sufocado entre obrigações , deveres
e nenhuma vontade de nada

terça-feira, novembro 27, 2007

para meu andre



O mar, o mar
(D.H. Lawrence)

O mar dissolve tanta coisa
e a lua leva embora tão mais
do que sabemos –

Assim que a lua baixa
e o mar se apossa de nós
as cidades se dissolvem como sal-gema
o açúcar funde fora da vida
o ferro some como velha mancha de sangue
o ouro se trasmuda em sombra verde
o dinheiro sequer deixa sedimento:
só o coração
cintila em seu triunfo salino
sobre tudo o que soube e agora foi-se
na salinidade do nada.

segunda-feira, novembro 26, 2007

meta: alcançar o satori


Me apoderei da meta Zen-budista de alcançar o Satóri.

"Psicologicamente, o satóri consiste numa transcedência dos limites do ego. Do ponto de vista lógico, é a percepção da síntese da afirmação e da negação. Metafisicamente, é a apreensão intuitiva de que ser é vir a ser e vir a ser é ser"
(A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen)

domingo, novembro 25, 2007

sapos, sapinhos, sapulhas


Uma das vantagens dos 30 é saber que nem todo sapo, obrigatoriamente, precisa ser engolido. O espanto, acompanhado por um sorriso amarelo e por uma bela engolida de sapo passa a acontecer apenas quando não há outro jeito.

Me tornei uma pessoa seletiva e muito prática com as "coisas" da vida. Agora, quando algo, ou alguém, me incomoda muito e não tenho obrigação – seja financeira, social ou familiar – de aturar, não penso duas vezes e jogo o lixo para fora. Não sou do tipo que dá escândalo ou desce o barraco, mas rapidamente limpo a casa e me livro do entulho engasgado na garganta.

Eu fui legal, muito legal, e mesmo assim acabei sacaneada?! Sorry, baby, terei de bani-lo do meu pequeno mundo. Minhas últimas palavras? Só não esquece de bater a porta ao sair, s'il vous plaît.

a conta dos planetas


Há semanas tenho escutado pessoas de lugares diferentes discutindo quantos planetas Terra gasta conforme seu estilo de vida. Cinco foi a média de planetas ouvidos até agora. Confesso que fiquei curiosa e entrei no tal site.

Quantos planetas eu gasto? Um planeta Terra e meio! Meu Deus, é muito! E ainda assim estou bem abaixo da média. Me senti culpada... De qualquer forma, esse valor só foi possível porque não tenho carro. Como faz diferença para a gastança dos bens naturais ter um carro...

Para diminuir a culpa, vou andar um pouco pelo bairro e refletir enquanto respiro o CO2 dos carros dos outros!

Se quiser saber quantos planetas Terra você está consumindo, entra lá no www.pegadaecologica.siteonline.com.br

O teste tem lá seus problemas mas vale para mexer com a consciência.

quarta-feira, outubro 31, 2007

adorei


O cúmulo da elegância por Germana Lorca.

eta saudade doida de ser carioca - com direito a xiar



Tô morrendo de saudade do Rio. Quando esquenta em São Paulo é um verdadeiro inferno sem nenhuma brisinha para acalmar a alma. Em cidades como Sampa não poderia fazer calor nunca. Deveria ser proibido temperatura acima de 25º graus onde não existe praia. Às vezes, em dias calorentos, áridos, como sábado passado, em que o sol reina sozinho sem nenhuma nuvenzinha pra contar história, eu sigo pela João Moura e tenho a sensação de que, ao virar na Teodoro Sampaio, darei de cara com a praia. C'est la vie!

Alors, je vais à Rio à la semaine prochaine. Fantastique! Mesmo que seja a trabalho! Mal vejo a hora de sentir a brisa do Leblon no rosto; de andar de chinelo, de ver e ouvir gente que tem o mesmo sotaque e que não acha engraçado o modo como eu falo doze. eheheheh


A contagem regressiva já começou. Mãe, vai preparando a carne assada que eu tô chegando!


Ops, só não tenho mais um biquine decente. Também, aqui eu não uso...

valeu, bianca!

Não posso deixar de agradecer em público a minha fiel leitora, Bianca Balsini. Obrigada, Bianca, por ler e comentar todos os meus posts. Te adoro!

allez, allez!



O que sempre me atraiu no cinema francês foi o "allez, allez", dito por um francês râleur a um grupo de crianças que toca o terror dentro de casa. Essa cena sempre me deixou impressionada com a rabugice bem-humorada dos franceses. Bom, e hoje estou num dia de allez, allez pra tudo.

quinta-feira, outubro 25, 2007

palavras

escrevi um texto conceitual para um job e passei para o designer francês da agência. Como alguém que ainda tateia por uma língua estrangeira, ele se deparou com a palavra "vislumbrar" e ficou encantado. O episódio me incitou a dar início a um desejo antigo: um exercício descompromissado de colocar no papel - no caso, aqui no blog - palavras que encantam, divertem, repugnam ou emudecem.

obrigada pela forcinha, Benoit.

?


minha mente está povoada de fantasmas, tentando solucionar e entender enigmas que não foram construídos com respostas.

quinta-feira, outubro 11, 2007

utopia


ilustra: Eric Feng.


Que alguém pague para eu ler tudo o que eu quiser
Que alguém pague para eu escrever só o que me toque

sábado, setembro 08, 2007

rito de passagem ou drama de mae


Compramos uma cama para o Lu hoje. Demos adeus ao berço.
Meu filho está virando um homem...
ai, ai...

o que e jerome hausman?


Uma mistura de bom velhinho, com duende do pote de ouro do arco-íris, e um daqueles professores memoráveis dos tempos da faculdade. Sorridente, disputado por todas as jovens do ambiente que não paravam de lhe apertar as bochechas, atencioso com todas elas, diga-se de passagem; cheio de histórias para contar. Para lá dos oitenta, mas passava por setentão fácil.

Enviei um roteiro de perguntas para ele, duas semanas antes do I Seminário Internacional da Democratização Cultural acontecer, mas ele estava enrolado e preferiu conversar quando chegasse ao Brasil. Na hora da entrevista, Jerry saca da mala - que não largou nem por um minuto - um rascunho em folha amarela, escrito à mão - num garrancho de médico daqueles bem difíceis de entender - e me entrega cinco respostas, pensadas durante o vôo, para as minhas perguntas. Nesse momento, disse adeus ao roteiro e resolvi conversar. E como foi boa a conversa. Fala mansa, mas com muita energia, risadas altas e festivas, olhar de quem simula saber pouco, mas no fundo sabe que conduz muito bem o fio da meada. Simplicidade e relevância. Fiquei encantada.

Por isso, transcrevo um trecho da conversa - a íntegra da entrevista está em www.democratizacaocultural.com.br. Para que outros também se deliciem com o velhinho batuta, precursor dos estudos de arte-educação no mundo, que veio lá dos states e conversou comigo como se eu não fosse mais uma entre os milhares de jornalistas que lhe entrevistaram na vida.

As aspas de Jerome Hausman:
"Por muito tempo, para aprender arte era preciso se tornar aprendiz de grandes artistas, servindo a eles, seja nos serviços da casa, seja no trabalho de arte propriamente dito. O aprendiz configurou os primórdios do aprendizado da arte, que passou por um longo processo de transformação. Há muitos anos, quando eu era diretor da Escola de Arte da Faculdade de Ohio, conheci um professor de história da arte que foi ao Paquistão interessado nas cerâmicas produzidas por lá. Nessa viagem, ele se impressionou muito com o trabalho de um artista específico e resolveu ir até a cidade desse artista para conhecê-lo. Quando chegou e perguntou onde poderia encontrar 'o artista', todos disseram que não o conheciam, simplesmente porque não sabiam o significado da palavra 'artista'. E ele mudou a pergunta, querendo saber quem fazia a cerâmica. Então, foi entendido, e com o endereço em mãos foi encontrar o artista. Ficou impressionadíssimo com o que viu: um homem trabalhando a argila em um torno rudimentar, feito de pedra e pau. E meu amigo perguntou ao homem: 'Quem te ensinou a fazer isso?'. O homem olhou para ele desconfiado e disse que ninguém o havia ensinado. Meu amigo insistiu: 'Mas como você aprendeu?', e a resposta foi 'Eu nunca aprendi'. 'O seu pai fazia cerâmica?', retrucou o professor. 'Sim. O meu pai, o pai dele, o pai do pai dele... Toda a minha a família faz cerâmica'. Então, quando o meu amigo me contou essa história, ficamos refletindo sobre a naturalidade desse aprendizado. Perguntar “quem te ensinou a fazer arte?' significava, naquele contexto, o mesmo que perguntar 'quem te ensinou a respirar?'. A arte fazia parte da vida daquele homem de uma forma tão natural que ele nem conseguia pensar o que era ensino. 
De um outro ponto de vista, durante o século 19 foram inauguradas muitas escolas que incluíam o desenho no currículo com o objetivo de capacitar mão-de-obra especifica, com ótima coordenação motora, para trabalhar nas fábricas. Dando um salto na história, no fim da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano ofereceu aos jovens recém-chegados da guerra a opção de estudar em faculdades. Vários jovens escolheram estudar arte, e eu me incluo na lista, impulsionando a ampliação das faculdades e o crescimento de um mercado específico. Depois de graduado, resolvi ensinar arte, assim como muitos resolveram. Quer dizer, a humanidade evoluiu e precisou readequar seus conceitos e práticas, e o ensino da arte passou por esse viés."

"Mais ou menos 50 anos atrás, conheci Marshall McCune, que publicou um livro sobre as projeções da invenção da imprensa, e fiquei impressionado com sua tese. Também li os escritos de Walter Benjamin sobre a arte na era da reprodução mecânica. Retorno a esses nomes e temas para mostrar que as mudanças acontecem naturalmente, como uma evolução, mas que agora elas estão num ritmo de progressão geométrica, e não aritmética, como no passado. Para muitos, a globalização restringe-se a um fenômeno econômico, mas ela vai além disso. As mudanças tecnológicas são impactantes no que somos e fazemos e acontecem mais rápido que o nosso entendimento. Trata-se de uma dinâmica irreversível que afeta a vida das pessoas, gerando novas atitudes e visões e criando novas ambigüidades. O nosso desafio hoje é encontrar a ponte entre a identidade pessoal e a coletiva. A globalização também gerou mudanças incríveis na forma e nos meios de fazer arte, na expressão e realização de idéias. Há, por exemplo, uma nova paleta de realidades visuais que incitam todo tipo de imagística e geram novas interpretações. A arte transformou-se em um novo instrumento de organização da consciência. Os pintores não se sentem mais confinados a telas e tintas, utilizam todo tipo de material; os músicos vão além dos instrumentos tradicionais e assim por diante. A verdade é que os jovens do mundo atual têm uma variedade maior de possibilidades de expressão e realização de suas idéias e sentimentos. O que é importante, mas não é melhor do que as formas anteriores. A expansão dos meios criativos não significa uma qualidade maior de valores e significados."

entrevistas boas por demais da conta


Fiz a cobertura do I Seminário Internacional da Democratização Cultural, que aconteceu aqui em São Paulo. E tive a oportunidade, que todo jornalista adora, de entrevistar pessoas muito inteligentes de outros países. Ai, como é bom falar com gente inteligente, mesmo em outra língua, com ajuda de tradutor, com um monte de gente espreitando, com muito pouco tempo. Tenho que admitir que sai de lá cansada, com inglês, francês e espanhol ressoando nos ouvidos, mas bastante satisfeita e louca por um chopinho redentor. Não foi o caso... e acabei me consolando com uma coca-cola gelada. O que não é nada mal.
Para quem quiser conferir o resultado da cobertura, basta entrar no www.democratizacaocultural.com.br e acessar o Boletim da Democratização Cultural. Ainda com muito conteúdo na algibeira, certamente as próximas edições vão trazer matérias inéditas.

sexta-feira, agosto 17, 2007

o risco a'trai o risco



mama
o peito da mãe
esfolado
desgovernado
persona
com vida própria que não é sua
é outra
é vida em toda a sua ma-te-ria-li-dade
o peito materno
e'terno
calejado
caído e sustento
expressão máxima de amor

me ar'risco na poesia - minha pobre poesia

Vincent Van Gogh
Lane with Poplar Trees, início de 1884 - 54 x 39 cm
uma longa caminhada
caminho
caminho em direção ao nada
ao tudo que ainda é nada
caminho em direção ao desejo
ao afeto
ao beijo
caminho porque tenho pernas e asas
caminho para me abrigar
para continuar vivendo
um caminho sem fim
que no fim tem seu começo

quarta-feira, julho 25, 2007

mondo bizarro


Olha que curioso: um erro de digitação me apresentou o genérico do meu blog. O "orelhaempe", também de uma jornalista, que iniciou seus escritos no universo blogspot em abril de 2007,um ano depois do original - o meu é claro.

Bom, como todo mundo tem direito a se expressar como bem quiser, enfio a minha viola no saco e continuo escrevendo por aqui, sabendo que num universo paralelo, no Mondo Bizarro, tem uma versão de orelha em pé às avessas. hehehe!
Ok. Vamo ae!

terça-feira, julho 24, 2007

leitura


Leitura, Renoir


Leitura: fator de desenvolvimento individual e social*

Do entrelaçamento entre a leitura, a escrita e a construção de mundo intrínseca a esse processo, surge a literatura. Uma das manifestações culturais mais importantes no que tange a reflexão e percepção sobre a vida, a construção do imaginário e da individualidade e a conexão com o outro, a literatura está associada à essência das sociedades, seja na Grécia com Homero, em Roma com Ovídio ou na Inglaterra com Shakespeare. A própria origem da palavra já estabelece esse vínculo direto com o processo de codificação da língua. O vocábulo literatura vem do termo latino littera, que significa letra, e deixa claro que não há literatura sem leitura, seja essa oralizada ou escrita. Por outro lado, ler vem do grego legei, um vocábulo marcado pela noção de reunir, de colher, que pressupõe a observação e compilação de elementos para uma posterior interpretação. Quando combinamos leitura e narrativa o que temos é um poderoso instrumento político e social que possibilita a apropriação da cidadania, a compreensão das urgências do mundo e a transgressão de ordens predeterminadas. Portanto, é impossível falar de democratização da literatura sem que antes se pense no acesso à leitura. E por isso formar leitores plenos, que vão além do funcionalismo, hoje é uma questão de ordem mundial.

No Brasil, a relação com o livro e a leitura se estabelece de fato – ainda que precariamente – com a chegada da corte portuguesa, em 1808. Nesse momento, o país passa da condição de colônia iletrada, distanciada do mundo pela escassez e proibição de informação, ao posto de sede do império português. Uma inversão nos papéis entre metrópole e colônia, benéfica para o Brasil, já que lhe permitia avançar em direção à produção intelectual. Com a corte, veio a Real Biblioteca Portuguesa, que daria origem à Fundação Biblioteca Nacional, hoje considerada a maior da América Latina e a oitava do mundo. Um enorme paradoxo para um País que, em pleno século 21, reúne uma massa de analfabetos e alfabetizados funcionais, e no qual apenas 26% da população adulta têm domínio pleno das habilidades de leitura e escrita, segundo a última pesquisa do Inaf, Indicador de Alfabetismo Funcional, realizada em 2005.

Participante ativo no processo de elaboração das diretrizes para o desenvolvimento da leitura no Brasil, o secretário executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), José Castilho, vê a erradicação do analfabetismo como peça-chave para o avanço do País. “O analfabetismo é a doença terminal da cidadania. É o impedimento total do uso da capacidade de ler e participar dessa era em que vivemos. A democratização do acesso num País com problemas históricos de desigualdade passa pelo fomento de atividades de uso coletivo, como a modernização e criação de novas bibliotecas e a distribuição gratuita de livros em programas especialmente dirigidos às camadas mais excluídas da população.”

Lançado em 2006, o PNLL foi desenvolvido com base em quatro eixos: democratização do acesso; fomento à leitura e à formação de mediadores; valorização do livro e comunicação; e desenvolvimento da economia do livro. O programa tem por pauta a necessidade de formar uma sociedade leitora, medida que considera essencial para a inclusão social e para a viabilização da economia. “Pela primeira vez o País constrói uma estratégia para a leitura envolvendo organicamente os Ministérios da Cultura e da Educação. Leitura passa a ser objetivo prioritário dos dois ministérios no âmbito escolar e artístico/cultural e isso é fundamental do ponto de vista da ação do Estado. Por outro lado, o PNLL também buscou o consenso da sociedade civil, dos profissionais do setor e do terceiro setor, por entender que apenas o Estado não dará conta da imensa tarefa que é fazer do Brasil um país leitor”, afirma Castilho.

Mas nem todos os setores da sociedade concordam com a linha de atuação do PNLL e, muito menos, com o seu caráter consolidador. Há a percepção de que essa seja mais uma das iniciativas pulverizadas que vêm sendo desenvolvidas desde o século 19. Diretor e fundador da ONG Leia Brasil, Jason Prado acredita que o problema da política governamental é que ela não se alinha à real necessidade da sociedade brasileira. “Nos últimos 70 anos todas as políticas nacionais de leitura se relacionaram com a questão do mercado editorial. Mais da metade dos livros é comprada pelo Estado e o escritor acaba se prejudicando. O MEC incentiva essa relação objetal com o livro. E o Governo trabalha as questões do livro, da leitura, da cadeia produtiva do livro, mas ainda trata o leitor como elemento de formação do mercado.”

A posse do livro, tão comentada por teóricos e historiadores da leitura como um ato de “apreensão intelectual” (segundo Alberto Manguel) e de paixão pelas Letras, quando condicionada à mera relação objetal, como definida por Jason Prado, acaba por minar toda a importância da fruição e aquisição de saber. “Essa atitude é visível quando se fala da relação com o livro. Mas esse sentimento de posse só deveria se relacionar com a apropriação do conteúdo”, completa o diretor da Leia Brasil. Ainda assim, vale lembrar que ler e possuir livros no Brasil é privilégio de poucos. Segundo dados do Cerlalc – Centro Regional para Fomento do Livro na América Latina e Caribe, a média de livros lidos por habitantes é de 1,8; enquanto na Colômbia esse número sobe para 2,4; e em países desenvolvidos, como a França, o índice é de 7 livros por habitante. A sentença reflete a má distribuição de renda, evocando questões nacionais como o valor do salário mínimo (R$ 380) em comparação com o valor médio do livro (R$ 25). Ou seja, ao contrário do que deveria ser, livro é objeto de luxo.


Literatura: ferramenta de construção

O conceito de literatura tal qual conhecemos hoje não existia até meados do século 17, quando a disciplina englobava não só a narrativa de ficção como também cartas, tratados e sermões. Mas um ponto que não mudou em todos esses anos é a possibilidade de construir significados e de se relacionar com o mundo, promovida pelo texto literário.

Para Affonso Romano Sant’Anna a literatura é um gênero de primeira necessidade. “Não se vive sem símbolos, sem acionar o imaginário. Os escritores são sonhadores de utilidade pública e a literatura pode ser transgressiva, formativa e conformativa. Se poesia, se literatura não servissem para nada, duas coisas. Por que é que existe há mais de seis mil anos na história de todas as culturas? E por que todas as culturas que existem, que usam a escrita, o alfabeto, e todas as culturas ágrafas – que não escrevem – têm na sua fundação a poesia?!.”

A literatura brasileira também tem muito a dizer da cultura nacional. E apesar de todas as dificuldades com relação ao acesso, continuamos fabricando escritores de primeira linha que, por conta da desvalorização de seu trabalho, são obrigados a desenvolver atividades paralelas. “Dentre os objetivos do Plano Nacional do Livro e Leitura, uma política de incentivo ao autor e à literatura brasileira é considerada prioritária, principalmente na aproximação dos nossos autores com seu público. Ainda assim, a literatura brasileira vai muito bem, com o aparecimento contínuo de escritores talentosos e a afirmação de valores que se consagraram nos últimos anos. Além disso, um número cada vez maior de escritores se organiza em movimentos que promovem a literatura e divulgam com qualidade a produção nacional”, conta o secretário executivo do PNLL.


Uma luz para a leitura

A participação da sociedade civil, do terceiro setor e do poder privado tem sido cabal para elevar os índices de acesso à literatura nacional, complementando a atuação governamental. As iniciativas vão da criação de bibliotecas comunitárias à formação de mediadores da leitura e se estendem por todo o território nacional, alcançando, inclusive, as áreas remotas.

Este é o caso da Expedição Vaga Lume, um programa que atua em comunidades rurais de quatro municípios da Amazônia legal brasileira, promovendo o acesso ao livro e à leitura a partir da distribuição gratuita de acervos de literatura e da capacitação de mediadores de leitura. “Os mediadores são os verdadeiros veículos de democratização cultural, uma vez que levam a literatura até as pessoas e resgatam a narrativa oral existente nas comunidades”, explica Sylvia Guimarães, fundadora e presidente da Expedição Vaga Lume. O projeto nasceu do sentimento de que a Amazônia era muito rica para não contar com nenhum investimento em sua população. E o nome Expedição Vaga Lume veio do fato do trabalho ser expedicionário – a configuração geográfica das áreas atingidas diz por si só – e por “iluminar as comunidades com as luzes da biblioteca”.

Sete anos depois de iniciado, o programa contabiliza bibliotecas em 84 comunidades rurais de 19 municípios, além de 1000 mediadores formados, entre eles, professores que foram fazer mestrado e escolheram como tema o incentivo à leitura. O projeto também gerou uma nova fonte de diversão para comunidades como Alter do Chão, em Santarém, onde as 135 famílias envolvidas retiram, diariamente, 180 livros. “A capacitação quebra paradigmas com relação ao livro, tratando-o como objeto cultural. Para isso, oferecemos um curso sobre medição de leitura e sobre como gerir a biblioteca e a memória local. A responsabilidade do mediador é fazer com que os livros sejam lidos, além de atuar como leitor público. Usualmente, os alunos da mediação – professores da rede pública e lideranças comunitárias – entrevistam os idosos e contadores de história de sua comunidade e, como resultado, produzem um livro artesanal que, depois, é impresso e incluído no acervo da biblioteca”, diz Daniela Weiers, assessora executiva do projeto. Para ampliar esse alcance, a Expedição Vaga Lume elegeu 2007 como o ano da capacitação de agentes multiplicadores. A nova fase deve configurar uma releitura da relação entre o projeto e a comunidade. “A idéia é transformar o mediador em agente multiplicador, cabendo à Expedição a supervisão do trabalho”, completa a assessora executiva.

Com foco na comunidade escolar da rede pública de ensino, a ONG Leia Brasil promove a leitura em mais de 700 escolas, utilizando como instrumentos oficinas caminhões-biblioteca, publicações, cursos e eventos culturais. “Trabalhamos há 16 anos com a perspectiva de instrumentar uma ação de promoção da leitura no âmbito da escola pública. Nosso objetivo é dar aos professores outras armas de enfrentamento da leitura além dos cursos clássicos de formação, que não têm uma linha direcionada para a literatura e a construção do imaginário. Com isso, pretendemos que textos de escritores como Machado de Assis não sejam usados apenas para a análise sintática e, sim, para fomentar a libertação e a construção da subjetividade”, explica o presidente da ONG. No que diz respeito aos professores, a Leia Brasil disponibiliza livros e oferece cursos e encontros com escritores, além de editar uma publicação que reúne uma seleta de artigos que visam relacionar literatura e artes.

Para o secretário executivo do PNLL, José Castilho, as iniciativas que formam leitores e incutem o encantamento pelo livro são muito bem-vindas não só para o Governo como para a sociedade. “Facilitar o acesso ao livro e à literatura é uma responsabilidade social extremamente importante nessa etapa histórica vivida pelo País. Iniciativas que atuam nessa linha, permitem a formação de uma consciência cidadã, sentimento extremamente incentivado nos momentos mágicos de isolamento total do leitor com o conteúdo da obra que lê. A consciência se forma no ato individual de reflexão do leitor consigo mesmo, provocado pela leitura e pelas inquietudes que ela proporciona. Um país sem cidadãos conscientes não é, em última instância, uma nação e pode ser manipulado, vilipendiado e invadido de forma a ter maculados, fortemente e indelevelmente, sua história, tradições, idioma e identidade”, conclui.


*Publicado no Boletim da Democratização Cultural

escrever para mim é prazer e trabalho

Fiquei muito tempo sem aparecer por aqui, então, para diminuir esse delay até zerar, resolvi publicar o que tenho escrito profissionalmente.

look Pan


O tempo da piada pode até ter passado, mas não vou deixar de comentar.
Que roupitcha* era aquela dos ginastas venezuelanos? O infeliz que teve a brilhante idéia de vestir os coitados de veludo azul molhado, definitivamente, estava torcendo contra!

*Pena que eu não achei o uniforme completo: "cunjunto" de regatinha e short coladinho no corpo.

quinta-feira, junho 07, 2007

volta às origens

Estou voltando a um ponto que ficou para trás: a poesia. Aos poucos vou estreitando os laços, lendo os velhos eternos poetas e conhecendo outros de igual genialidade. Quando foi que me afastei da poesia? A resposta não guarda nenhum mistério. Foi quando ingressei no mercado de trabalho. Sou muito caxias e quando me meto a fazer alguma coisa, quase me torno prisioneira da tarefa. Fico compulsiva. Mas estou aprendendo a conviver com esse lado que, se por um lado é aliado, por outro acaba se voltando contra mim.

Enfim, volto à poesia de mansinho, enlevada pelos versos de Wislawa Szymborska. Uma poeta polonesa que conheci através da Piauí. Genial, sutil, sensível e precisa. Transcrevo uma de suas poesias:

Encontro Inesperado

Nós nos tratamos com extrema cortesia,
dizemos: quanto tempo, que bom revê-lo.

Nossos tigre bebem leite.
Nossos falcões preferem o chão.
Nossos tubarões se afogam no mar.
Nossos lobos bocejam diante da jaula aberta.

Nossas cobras perderam seu lampejo,
nossos macacos, sua graça; nossos pavões, suas plumas.
Faz tempo que os morcegos deixaram nossos cabelos.

Caímos em silêncio no meio da conversa,
e não há sorriso que nos salve.
Nossos humanos
não sabem falar uns com os outros.

terça-feira, maio 29, 2007

estrelismo babaca


Me pergunto: se você é assessor de imprensa de uma estrela, isto te converte automaticamente em estrela?

Ando pasma com a "síndrome de estrela (por tabela)" que vem contaminando vários assessores de imprensa. Que eu saiba, não existe nenhum glamour no trabalho diário do jornalismo. Aliás, acho que isso tira a isenção, o poder de observação. O jornalista não deveria se posicionar no centro das atenções. Enfim...

Às vezes é mais difícil falar com o assessor do que com a própria personalidade que se deseja entrevistar.

sexta-feira, maio 25, 2007

A marrrdita!


Tô tentando largar a "marrrrdita", mas está bem difícil. Foram míseros quatro dias sem tomar Coca-cola, que me pareceram uma eternidade. E a overdose de Ades e Del Valle só me deu mais vontade. Hoje, vítima da abstinência, precisando relaxar, não aguentei e cedi à tentação.

Resumindo: como cai bem uma Coca bem gelada, mesmo com todo esse frio!

Na próxima tentativa serei mais forte!

do além

Um mês depois... Ufa! Voltando do além mundo do trabalho para respirar. Um "postizinho" muito rápido e já volto a mergulhar no universo da comunicação! Ô delícia!

terça-feira, abril 24, 2007

Escrever. Simples?

***
"Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples 'Preciso', então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal de e um testemunho desse impulso. Então se aproxime da natureza. Procure, como o primeiro homem, dizer o que vê e vivencia e ama e perde. Não escreva poemas de amor; evite a princípio aquelas formas que são muito usuais e muito comuns: são elas as mais difíceis, pois é necessária uma força grande e madurecida para manifestar algo de próprio onde há uma profusão de tradições boas, algumas brilhantes. Por isso, resguarde-se dos temas gerais para acolher aqueles que seu próprio cotidiano lhe oferece; descreva suas tristezas e desejos, os pensamentos passageiros e a crença em alguma beleza - descreva tudo isso com sinceridade íntima, serena, paciente, e utilize, para se expressar, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Caso o seu cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele, reclame de si mesmo, diga para si mesmo que não é poeta o bastante para evocar suas riquezas; pois para o criador não há nenhuma pobreza e nenhum ambiente pobre, insignificante."

Paris, 17 de fevereiro de 1903
Carta de Rilke a Kappus

***crédito da imagem: Frederico Mira George

Da série simples e compelxo


Eu nunca li nada do Rilke além de poemas esparsos. Em outubro do ano passado comprei Rilke, Cartas a um jovem poeta, um pocket editado pela L&PM, mas não cheguei a ler. Ontem, buscando um livro na estante, dei de cara com ele e peguei para ler. Para a minha surpresa, o texto de Rilke se encaixa perfeitamente no objeto de meus últimos pensamentos: a simplicidade com conteúdo. É impressionante como a construção narrativa de Rilke pode ser tão simples, clara, articulada, sem rodeios para falar dos assuntos mais complexos da vida.

Seria tão mais fácil optar pelo caminho simples, por uma visão simples - longe de ser simplória. Mas é mais simples, quase natural, complicar.

Enfim, vou parar por aqui. Do contrário, poderia por tudo a perder, tornando o que é simples e significativo uma fonte de complicações desnecessárias. O simples e o complexo podem coexistir harmonicamente, só depende de quem manuseia as ferramentas.

Bili, o cãopeão


Quem disse que o cão absorve as características dos donos não entende nada de cachorro. Faço questão de acreditar nisso, já que o Bili é um verdadeiro imbecil - mas ele é lindo mesmo assim.

O meu cão é tosco e não faz questão de esconder isso. Faz as maiores barbaridades só para afirmar sua personalidade. Mas Bili, no fundo, é um excêntrico.
Que cão seria tão boçal a ponto de:

- destruir qualquer tentativa de caminha, almofada, casinha... só para deitar no chão duro e frio.
-comer a própria coleira, mesmo amando passear.
- completar um ano sem nunca ter levantado a pata traseira para fazer suas necessidades.
-aliás, de segurar número 1 e o número 2 durante passeios longos só para ter o prazer de chegar em casa e sujar a p#$% toda.
-aliás de novo, de sentar, deitar e rolar em cima da própria sujeira.
-se encolher diante de cachorros de pequeno porte e encarar ferozmente os filas e dobermans da vida.
-saltar por horas a fio, sem medo de parecer uma ridícula salsicha saltitante, para alcançar o lençol pendurado no varal e lutar com ele, me deixando enfurecida.
-brincar de luta com o Lucas, mesmo tomando dezenas de "pows" bem dados.
-escolher a mim, que não sou chegada em cachorro, como dona, tendo o Andre e o Lucas por perto.

Que outro basset seria capaz de atitudes tão imbecis, senão o Bili???
Ainda assim, ele é lindo e rodopia para ganhar biscoitos "scooby". E, o mais importante, o Lu é louco por ele.

Eu andarei vestida e armada com as armas de São Jorge

Salve Jorge!

domingo, abril 22, 2007

Amo e odeio com toda a sinceridade


O legal da Last FM é que você acaba conhecendo sons sensacionais e ainda pode banir do dial o que detestar. Deus sabe o prazer que eu sinto ao banir tudo, absolutamente t-u-d-o, do Los Hermanos. Nem adianta torcer o nariz ou me olhar de esgueira: detesto Los Hermanos. Ô grupinho metido a besta.

Por outro lado, você acaba travando contato com alguns sons bem interessantes como é o caso da Cybelle, uma brasileira que mora em Paris e toca uma mistura de bossa nova com jazz e soul. Sensacional.

Acabei de descobrir um outro músico muito bom, o Bill Laswell. A música que me fascinou se chama Into the outlands.

O endereço para acessar a rádio é www.last.fm

Vale à pena. Nem que seja para conhecer o sistema.

Amor de criança


Não me lembro a primeira vez que me apaixonei, mas me lembro de noites de choro antes de dormir, com nada mais que 7 ou 8 anos. O nome do menino era Gabriel. E eu nem sei que tipo de coisa era aquela, já que eu nem sonhava em beijar, mas gostava dele. Para a minha maior vergonha, a mãe dele sabia e me chamava de norinha.

Reencontrei com o Gabriel nos tempos da faculdade. Ele se tornou um homem lindo. Na época, ele estava cursando artes cênicas e namorando um cara muito legal. C'est la vie...

Eu fui uma criança muito quieta, observadora, tímida e muito romântica, que pedia para ir ao banheiro na hora da aula só para ficar contemplando as árvores altas do Palácio da República que davam para os fundo do colégio - Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria -, no Catete. A professora chegou a chamar a minha mãe para conversar sobre o meu dom para a vida eclesiástica (sic).

Aos 12, a bola da vez era o Rafael C., um menino que morava no Cosme Velho. Ele era a sensação da escola, cheio de anotações na caderneta, suspensões e muitas meninas suspirando pelos cantos. Não aconteceu nada. Aliás, só fui dar o primeiro beijo aos 15.

Por que tanto saudosismo a essa altura? Estou tentando me lembrar da relação com os meninos na infância. É que meu filho está apaixonado e só tem 3 anos. Não pára de falar da Fefê e agora cismou que ela tem que conhecer a nossa casa. E ele, é claro, quer estar vestido de Batman nessa ocasião.

A menina é mesmo bem lindinha. Morena, de cabelo cacheado, rostinho mimoso e com uma personalidade daquelas - é taurina. Fiquei orgulhosa do bom gosto do meu filhote. Como boa mãe, fui logo fazendo a minha parte: convidei a mãe da menina para um lanche em casa. Estratégia para ajudar o meu pequeno.

Agora é só esperar e tentar apaziguar a ansiedade do Lu, que está eufórico, fazendo mil planos de brincadeiras e lanches.

A primeira de muitas namoradinhas que virão por aí e eu não quero ser do tipo mãe-tranqueira. Vou ser legal com as meninas e deixar que meu filho faça as suas próprias escolhas. Porque mãe pentelha, metida a dominadora e sogra bruxa ninguém merece.

sexta-feira, abril 20, 2007

Já não era sem tempo

Sim, acabou a tortura! A dupla Sandy&Jr se separou. Sorte nossa. Sorte do Júnior, coitado. Imagina ter que lidar com a Sandy pessoal e profissionalmente?! Bom, não dava para deixar de ser irmão...
... mas parar de fingir que sabia cantar já deve ter sido um alívio.

Agora é aturar a chatinha se sentindo a própria Elis Regina e bancando de Norah Jones dos pobres!

quinta-feira, abril 19, 2007

Da faculdade de esquecer nomes quando você mais precisa deles


Resolvi virar a mesa, depois de tanto passar vergonha com a minha incapacidade para lembrar nomes. Quando estou tensa então, a coisa piora já que passo ao estágio de amnésia total, acompanhada de descoordenação mental e gagueira - hehehe.

Vou criar um protótipo do ponto eletrônico cola-tabajara, ativado por voz. Um mecanismo muito simples que poderá me salvar toda vez que alguém me perguntar títulos de livros e filmes, nomes de personalidades e até de amigos que não vejo muito. A máquina vai funcionar da seguinte forma: de antemão, gravo todas as perguntas e respostas possíveis, num extenso sistema combinatório. Daí, quando alguém me perguntar um nome, o aparelho é acionado pelo controle de voz, busca a pergunta nos registros e me sopra a resposta.

Tudo isso porque é um frustrante só lembrar nomes quando você não precisa deles.
Aliás, essa história trouxe à tona um temor de criança: os exames orais. Um suplício para uma menina tímida e com "amnésia temporal", fonte de insônia e gastrite. Ai, meu Deus, quem proclamou a independência do Brasil? Foi aquele sujeito, herdeiro do rei de Portugal, que gostava muito de mulher, segundo as más línguas. Quem? Quem? Quem? Quem?????
Preciso de análise, trabalhar o lado direito do cérebro, fazer um ebó, não sei, quem sabe?! Quem? rsrsrsrs [riso nervoso]

sexta-feira, abril 13, 2007

Leitor

Coubert, A Leitura.

A leitura começa para o leitor na escolha do livro, em sua retirada da estante, na observação de uma orelha ou quarta-capa, no cheiro característico e, porque não, no som da página sendo virada. Para um leitor, todos esses elementos compõem um rito e antecipam o prazer do ato. Ao ler, além de interagir com o objeto livro, o leitor também interage com o texto, com o autor, com todas as suas leituras anteriores e, principalmente, consigo mesmo. Ao entrar em contato com outras representações de realidade, ele reflete sobre sua própria existência ou acumula subsídios para uma futura reflexão. O repertório literário tem um peso tão grande sobre a interpretação de uma obra, que ao reler o mesmo livro pela segunda vez, o leitor terá uma impressão diferente da que teve na primeira leitura.

Ao ler um livro, o leitor - ou receptor – cria significação para o texto e é então que ele passa a existir em toda a sua complexidade. Segundo Barthes “um livro começa a existir não quando um autor termina sua redação ou quando o editor o encaderna, mas quando o leitor fecha sua última página.” E o autor escreve tendo em mente que sua obra será lida, ganhará identidade e vida próprias, conforme o significado que lhe for atribuído pelo leitor. Reside aí o poder transgressor da leitura ofertado ao leitor, que se apropria da obra e a singulariza.



Livros e mais livros

“Ele lia a longa ancestralidade do livro que estava lendo, pois os livros que lemos são também os livros que outros leram. Não me refiro ao prazer vicário de segurar nas mãos um volume que pertenceu a outro leitor, evocado como um fantasma por meio do murmúrio de umas poucas palavras rabiscadas na margem, uma assinatura na guarda do livro, uma folha seca usada como marcador, uma mancha de vinho reveladora. Quero dizer que cada livro foi gerado por uma longa sucessão de outros livros cujas capas talvez jamais tenhamos visto e cujos autores talvez jamais conheçamos, mas que ressoa naquele que temos em mãos. (...) Para além do sentido literal e do significado literário, o texto que lemos adquire a projeção de nossa experiência, da sombra, por assim dizer, de quem somos.” Alberto Manguel, Uma história da leitura.

Banco de dados para a bandidagem

Se você pensa num sequestro em série de criancinhas brasileiras, assista ao Bom Dia e Cia, programa infantil do SBT. Pura utilidade pública para a bandidagem. O programa em si é ótimo e dá de dez na chata da Xuxa. Bons desenhos - meu filho adora os repaginados Scooby e a Liga da Justiça -, um casal mirim de apresentadores muito simpático, brincadeiras que lembram as do tempo do Bozo. Então, para que estragar tudo, pedindo no ar que a criança diga seu nome e endereço completos. Com os dados ditos em voz alta no programa dá para escolher as melhores vítimas e planejar sequestros sem dar bandeira sobre a fonte de informação. Absurdo num tempo em que celular virou arma mortal, que dar o endereço é ato restrito e que a palavra de ordem é resguardo. Preservar e não devassar. Por isso, estou decidida a contatar a produção do programa e tirar satisfação.

quinta-feira, abril 12, 2007

Terrorismo pediátrico

Sempre achei que o pediatra era aquele que gostava de lidar com crianças e, consequentemente, acabava por desenvolver o tato para lidar com pais - no meu caso, com uma mãe neurótica. Se bem que eu descobri que isso não é privilégio meu: se é mãe, é neurótica.
Enfim, estou com a macaca. Levei o Lucas na tal da pediatra e além de ser maltratada e ter minha eterna culpa de mãe insuflada, ainda tive que ouvir da louca que a dor no pé do meu filhote podia ser fruto de um processo oncológico. Eu é que fiquei looooouca! Fui a trocentos ortopedistas, pedi exame, não dormi, examinei o pé do coitado quinze mil vezes, enchi o saco do meu marido e... surpresa: era apenas uma dor de crescimento de um moleque de 3 anos que já tem um metro e cinco centímetros de altura. Diga-se de passagem, graças a Deus, nisso ele puxou ao pai.
O diagnóstico final, para a louca e não para o meu filho, é que ela sofre da síndrome do terrorismo e adora fritar o cérebro de mães de primeira viagem.
Tudo bem. Superei. Troquei de pediatra. Escolhi um japonês no estilo zen. E a próxima consulta certamente será mais suave.
Salve o pé do Lucas que dói de tanta saúde!

Para quem Machado de Assis escrevia?


Tenho pensado muito sobre a criação de hábitos de leitura, especialmente os do século 19. Hoje, lendo um trecho de uma carta de Lúcio de Mendonça para Machado de Assis, fiquei matutando sobre o perfil do leitor contemporâneo de Machado. Numa época tão influenciada pela literatura européia, com acesso restrito à literatura, além de um taxa altíssima de analfabetismo. O público-leitor de Machado, com quem seus personagens dialogavam, não devia passar de meia dúzia de gatos pingados.

Ainda assim, ele não desistiu. Mas é bem verdade que mudou de tática de Iaiá Garcia para Memórias Póstumas. Ficou mais agressivo.

Isso tudo me deixa curiosa. Quem era esse leitor, o que lia, como lia, quando e onde lia.
????
Vou fuçar.

quinta-feira, março 29, 2007

De que cultura estamos falando?

O Masp não é um caso isolado. Este é o retrato da maior parte das instituições culturais brasileiras e mostra a falência de um sistema que não investe na criação e propagação de uma atitude cultural. Aqui, entende-se atitude cultural como uma prática corrente e espontânea do desenvolvimento do ser, tomando a cultura como um valor intrínseco ao ser humano, que permeia todos os aspectos de sua vida.

Para atuar como um ser social pleno, o homem precisa de subsídios que permitam a comunicação total e irrestrita; precisa expandir constantemente seu repertório. Nesse sentido, o difícil acesso ao bem cultural, resultado de uma cruel desigualdade sócio-econômica, limita as possibilidades de atuação do indivíduo. Mas é preciso lembrar também que a cultura exerce uma poderosa força motriz sobre esse homem, capaz de levá-lo a criar mesmo em condições adversas, a encontrar e estabelecer novos padrões de comunicação e sensibilidade estética.

Quando falamos das dificuldades do acesso à cultura é preciso ter em mente que todo homem traz consigo um potencial criativo e desenvolve formas de cultura diversas, segundo sua realidade – fatores internos e externos. Essa cultura a que tanto nos referimos não pode ser vinculada apenas ao seu aspecto global, a cultura, digamos, oficial. A discussão sobre a democratização do acesso deve contemplar a criação regional, tradicional, tão generosa e aberta a contribuições. Nomear e classificar a cultura pressupõe o empobrecimento e a disseminação de estigmas.

Por isso, além de buscar caminhos para o desenvolvimento do potencial criativo, é preciso integrar suas diversas formas de expressão. E o investimento em uma educação humanizada deveria ser o primeiro passo para a concretização de uma política sócio-cultural consistente e verdadeira.

domingo, março 11, 2007

Masp 2 - A dura realidade dos museus brasileiros

Achei o Masp largado às moscas. Essa é a verdade.

Fiquei impressionada com a desorganização, o vaivém sem nenhum foco dos seguranças das salas, que aliás passam todo o tempo reparando nos visitantes e fazendo piadinhas.

E a curadoria? Meu Deus, como ninguém reparou que cada tabuleta explicativa tem sua própria norma, padrão?!

A grafia dos nomes dos artistas, por exemplo, parece ter sido concebida à galega. Em determinada parede um quadro é identificado como sendo de Edouard Vuillard*; outro, bem ao lado desse, na mesma parede, aparece como sendo de Edouard Vuillar. Pode até parecer um detalhe insignificante, um "d" a mais, um "d" a menos... pode até parecer que eu é que sou purista. Mas eu sou jornalista e sei a importância de transmitir uma informação com correção, ainda mais quando se trata de um centro de cultura representativo. Não há, ou não deveria haver, espaço para esse tipo de erro.

Mas eu trabalhei um tempo no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio. Sei exatamente como funcionam os bastidores de uma instituição como essa. Funcionários que trabalhavam na saúde, remanejados para a curadoria, sem o menor conhecimento sobre arte, estética... Despreparados e sem a menor disponibilidade para aprender. Querendo apenas bater o ponto, preencher e seguir a papelada da burocracia e sair às 18h.

Ainda assim, conheci gente apaixonada por seu trabalho, em busca de conhecimento e de alçar a arte a patamares mais elevados, ainda que dentro de uma estrutura de trabalho viciada. É nessas pessoas que eu acredito.


*Já que eu citei o pintor, não dá para deixar passar em branco. A tela "A princesa bibesco" é linda, singela, feminina, lírica. Enfim, fiquei imaginando na parede do meu escritório.

Masp - esperava mais

Fui visitar um cliente na Avenida Paulista, bem em frente ao Masp. A reunião foi relativamente rápida e às 15h30 de uma sexta-feira eu já estava liberada. Não pensei duas vezes. Atravessei a rua e, depois de um ano e nove meses de São Paulo, finalmente fui conhecer o Masp - o lado bom de ser dono do próprio nariz... e do trabalho também.

Só pela arquitetura da Lina Bo Bardi e por todos os anos em que quis conhecer o museu, já teria valido. Fui sem nenhuma expectativa com relação às exposições, com a mente e os sentidos abertos. Só isso. E dei de cara com um Boesch, um Van Gogh, um Degas e, um dos meus preferidos, um Modigliani.


Fora os grandes pintores - como se isso fosse pouco -, fiquei bastante decepcionada. Ao atravessar a Paulista, já se vê o cenário, e ele não é nada bonito. O que deveria ser um sólido vazio, quase existencial, um rasgo na paisagem urbana, destaque do projeto de Bo Bardi, se tornou um espaço ocupado... Grupos de pivetes e mendigos fizeram do vão criado por Bardi um ponto de encontro em pleno centro financeiro e cultural de São Paulo. É triste de ver. Mais de uma dezena de moradores de rua ocupando um espaço que não deveria ser ocupado e, ao mesmo tempo, impedido de ocupar um espaço que deveria ser desfrutado, o próprio museu. A entrada custa R$15.


Como é do meu feitio, puxei papo com o porteiro do prédio e o segurança. Acostumados com a movimentação da vizinhança, eles me contaram que tinha até pouca gente, "sexta-feira, sabe como é". Pelo o que entendi, o Masp virou abrigo para a população de rua das redondezas e ainda serve de QG para os moleques que assaltam os passantes quando cai a noite, "eles vão certeiros nos engravatados", diz o segurança. i r o n i a

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Desejos. Que os anjos digam amem!

Espero ensinar meu filho a relaxar. Esse é sem dúvida um aprendizado importante em tempos de estresse.
Se, como nos contos de fadas, eu pudesse desejar um dom para o meu filho, certamente seria o dom da leveza.

Meu filho querido, que você leve a vida leve e, que na sua companhia, todos os seres - homens, mulheres, crianças, animais, entidades mágicas – se sintam maravilhosamente leves.

Leveza significa viver sem atropelos, consciência tranquila, respeito ao próximo, facilidade para amar sem o peso dos grandes amores, capacidade de se reinventar sempre que for necessário, dom de levantar mais forte depois de uma queda, que ao invés de te derrubar terá te enriquecido. Que você seja um homem de honra e que eu me orgulhe sempre por ter sido escolhida como sua mãe. Estou morrendo de saudades!

Tempo


Tem horas que bate uma vontade enorme de voltar ao tempo em que o meu tempo não era contado. Deitar numa rede, assim - sem nenhuma culpa, remorso, repressão -, no meio da tarde; ler um livro gostoso que te transporta no embalo da rede para outro lugar. Um chocolate feito sem pressa e biscoitos. Ou apenas um chá, quente, que vai esfriando à medida que me lanço ao livro.

Estou com saudade dessa "mim". Mas sou otimista e acho que esse ano vou conseguir me reencontrar. Para começar, estou mudando de trabalho – pra deixar de ser escrava -, e instalei duas redes em casa. Agora só falta o livro, a preguiça gostosa, o chá e, o mais importante, tempo para mim mesma.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

LAST FM

Caramba. Fiquei viciada! Música sem limite!

Muito tempo sem...

... celular. E agora, eu que me considerava uma pessoa desapegada desse tipo de tecnologia, não consigo me controlar. Todo mundo me liga, liga p/ todo mundo. E o se o maldito não toca, fico encanada. Ô dilema!