terça-feira, abril 24, 2007

Escrever. Simples?

***
"Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples 'Preciso', então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal de e um testemunho desse impulso. Então se aproxime da natureza. Procure, como o primeiro homem, dizer o que vê e vivencia e ama e perde. Não escreva poemas de amor; evite a princípio aquelas formas que são muito usuais e muito comuns: são elas as mais difíceis, pois é necessária uma força grande e madurecida para manifestar algo de próprio onde há uma profusão de tradições boas, algumas brilhantes. Por isso, resguarde-se dos temas gerais para acolher aqueles que seu próprio cotidiano lhe oferece; descreva suas tristezas e desejos, os pensamentos passageiros e a crença em alguma beleza - descreva tudo isso com sinceridade íntima, serena, paciente, e utilize, para se expressar, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Caso o seu cotidiano lhe pareça pobre, não reclame dele, reclame de si mesmo, diga para si mesmo que não é poeta o bastante para evocar suas riquezas; pois para o criador não há nenhuma pobreza e nenhum ambiente pobre, insignificante."

Paris, 17 de fevereiro de 1903
Carta de Rilke a Kappus

***crédito da imagem: Frederico Mira George

Da série simples e compelxo


Eu nunca li nada do Rilke além de poemas esparsos. Em outubro do ano passado comprei Rilke, Cartas a um jovem poeta, um pocket editado pela L&PM, mas não cheguei a ler. Ontem, buscando um livro na estante, dei de cara com ele e peguei para ler. Para a minha surpresa, o texto de Rilke se encaixa perfeitamente no objeto de meus últimos pensamentos: a simplicidade com conteúdo. É impressionante como a construção narrativa de Rilke pode ser tão simples, clara, articulada, sem rodeios para falar dos assuntos mais complexos da vida.

Seria tão mais fácil optar pelo caminho simples, por uma visão simples - longe de ser simplória. Mas é mais simples, quase natural, complicar.

Enfim, vou parar por aqui. Do contrário, poderia por tudo a perder, tornando o que é simples e significativo uma fonte de complicações desnecessárias. O simples e o complexo podem coexistir harmonicamente, só depende de quem manuseia as ferramentas.

Bili, o cãopeão


Quem disse que o cão absorve as características dos donos não entende nada de cachorro. Faço questão de acreditar nisso, já que o Bili é um verdadeiro imbecil - mas ele é lindo mesmo assim.

O meu cão é tosco e não faz questão de esconder isso. Faz as maiores barbaridades só para afirmar sua personalidade. Mas Bili, no fundo, é um excêntrico.
Que cão seria tão boçal a ponto de:

- destruir qualquer tentativa de caminha, almofada, casinha... só para deitar no chão duro e frio.
-comer a própria coleira, mesmo amando passear.
- completar um ano sem nunca ter levantado a pata traseira para fazer suas necessidades.
-aliás, de segurar número 1 e o número 2 durante passeios longos só para ter o prazer de chegar em casa e sujar a p#$% toda.
-aliás de novo, de sentar, deitar e rolar em cima da própria sujeira.
-se encolher diante de cachorros de pequeno porte e encarar ferozmente os filas e dobermans da vida.
-saltar por horas a fio, sem medo de parecer uma ridícula salsicha saltitante, para alcançar o lençol pendurado no varal e lutar com ele, me deixando enfurecida.
-brincar de luta com o Lucas, mesmo tomando dezenas de "pows" bem dados.
-escolher a mim, que não sou chegada em cachorro, como dona, tendo o Andre e o Lucas por perto.

Que outro basset seria capaz de atitudes tão imbecis, senão o Bili???
Ainda assim, ele é lindo e rodopia para ganhar biscoitos "scooby". E, o mais importante, o Lu é louco por ele.

Eu andarei vestida e armada com as armas de São Jorge

Salve Jorge!

domingo, abril 22, 2007

Amo e odeio com toda a sinceridade


O legal da Last FM é que você acaba conhecendo sons sensacionais e ainda pode banir do dial o que detestar. Deus sabe o prazer que eu sinto ao banir tudo, absolutamente t-u-d-o, do Los Hermanos. Nem adianta torcer o nariz ou me olhar de esgueira: detesto Los Hermanos. Ô grupinho metido a besta.

Por outro lado, você acaba travando contato com alguns sons bem interessantes como é o caso da Cybelle, uma brasileira que mora em Paris e toca uma mistura de bossa nova com jazz e soul. Sensacional.

Acabei de descobrir um outro músico muito bom, o Bill Laswell. A música que me fascinou se chama Into the outlands.

O endereço para acessar a rádio é www.last.fm

Vale à pena. Nem que seja para conhecer o sistema.

Amor de criança


Não me lembro a primeira vez que me apaixonei, mas me lembro de noites de choro antes de dormir, com nada mais que 7 ou 8 anos. O nome do menino era Gabriel. E eu nem sei que tipo de coisa era aquela, já que eu nem sonhava em beijar, mas gostava dele. Para a minha maior vergonha, a mãe dele sabia e me chamava de norinha.

Reencontrei com o Gabriel nos tempos da faculdade. Ele se tornou um homem lindo. Na época, ele estava cursando artes cênicas e namorando um cara muito legal. C'est la vie...

Eu fui uma criança muito quieta, observadora, tímida e muito romântica, que pedia para ir ao banheiro na hora da aula só para ficar contemplando as árvores altas do Palácio da República que davam para os fundo do colégio - Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria -, no Catete. A professora chegou a chamar a minha mãe para conversar sobre o meu dom para a vida eclesiástica (sic).

Aos 12, a bola da vez era o Rafael C., um menino que morava no Cosme Velho. Ele era a sensação da escola, cheio de anotações na caderneta, suspensões e muitas meninas suspirando pelos cantos. Não aconteceu nada. Aliás, só fui dar o primeiro beijo aos 15.

Por que tanto saudosismo a essa altura? Estou tentando me lembrar da relação com os meninos na infância. É que meu filho está apaixonado e só tem 3 anos. Não pára de falar da Fefê e agora cismou que ela tem que conhecer a nossa casa. E ele, é claro, quer estar vestido de Batman nessa ocasião.

A menina é mesmo bem lindinha. Morena, de cabelo cacheado, rostinho mimoso e com uma personalidade daquelas - é taurina. Fiquei orgulhosa do bom gosto do meu filhote. Como boa mãe, fui logo fazendo a minha parte: convidei a mãe da menina para um lanche em casa. Estratégia para ajudar o meu pequeno.

Agora é só esperar e tentar apaziguar a ansiedade do Lu, que está eufórico, fazendo mil planos de brincadeiras e lanches.

A primeira de muitas namoradinhas que virão por aí e eu não quero ser do tipo mãe-tranqueira. Vou ser legal com as meninas e deixar que meu filho faça as suas próprias escolhas. Porque mãe pentelha, metida a dominadora e sogra bruxa ninguém merece.

sexta-feira, abril 20, 2007

Já não era sem tempo

Sim, acabou a tortura! A dupla Sandy&Jr se separou. Sorte nossa. Sorte do Júnior, coitado. Imagina ter que lidar com a Sandy pessoal e profissionalmente?! Bom, não dava para deixar de ser irmão...
... mas parar de fingir que sabia cantar já deve ter sido um alívio.

Agora é aturar a chatinha se sentindo a própria Elis Regina e bancando de Norah Jones dos pobres!

quinta-feira, abril 19, 2007

Da faculdade de esquecer nomes quando você mais precisa deles


Resolvi virar a mesa, depois de tanto passar vergonha com a minha incapacidade para lembrar nomes. Quando estou tensa então, a coisa piora já que passo ao estágio de amnésia total, acompanhada de descoordenação mental e gagueira - hehehe.

Vou criar um protótipo do ponto eletrônico cola-tabajara, ativado por voz. Um mecanismo muito simples que poderá me salvar toda vez que alguém me perguntar títulos de livros e filmes, nomes de personalidades e até de amigos que não vejo muito. A máquina vai funcionar da seguinte forma: de antemão, gravo todas as perguntas e respostas possíveis, num extenso sistema combinatório. Daí, quando alguém me perguntar um nome, o aparelho é acionado pelo controle de voz, busca a pergunta nos registros e me sopra a resposta.

Tudo isso porque é um frustrante só lembrar nomes quando você não precisa deles.
Aliás, essa história trouxe à tona um temor de criança: os exames orais. Um suplício para uma menina tímida e com "amnésia temporal", fonte de insônia e gastrite. Ai, meu Deus, quem proclamou a independência do Brasil? Foi aquele sujeito, herdeiro do rei de Portugal, que gostava muito de mulher, segundo as más línguas. Quem? Quem? Quem? Quem?????
Preciso de análise, trabalhar o lado direito do cérebro, fazer um ebó, não sei, quem sabe?! Quem? rsrsrsrs [riso nervoso]

sexta-feira, abril 13, 2007

Leitor

Coubert, A Leitura.

A leitura começa para o leitor na escolha do livro, em sua retirada da estante, na observação de uma orelha ou quarta-capa, no cheiro característico e, porque não, no som da página sendo virada. Para um leitor, todos esses elementos compõem um rito e antecipam o prazer do ato. Ao ler, além de interagir com o objeto livro, o leitor também interage com o texto, com o autor, com todas as suas leituras anteriores e, principalmente, consigo mesmo. Ao entrar em contato com outras representações de realidade, ele reflete sobre sua própria existência ou acumula subsídios para uma futura reflexão. O repertório literário tem um peso tão grande sobre a interpretação de uma obra, que ao reler o mesmo livro pela segunda vez, o leitor terá uma impressão diferente da que teve na primeira leitura.

Ao ler um livro, o leitor - ou receptor – cria significação para o texto e é então que ele passa a existir em toda a sua complexidade. Segundo Barthes “um livro começa a existir não quando um autor termina sua redação ou quando o editor o encaderna, mas quando o leitor fecha sua última página.” E o autor escreve tendo em mente que sua obra será lida, ganhará identidade e vida próprias, conforme o significado que lhe for atribuído pelo leitor. Reside aí o poder transgressor da leitura ofertado ao leitor, que se apropria da obra e a singulariza.



Livros e mais livros

“Ele lia a longa ancestralidade do livro que estava lendo, pois os livros que lemos são também os livros que outros leram. Não me refiro ao prazer vicário de segurar nas mãos um volume que pertenceu a outro leitor, evocado como um fantasma por meio do murmúrio de umas poucas palavras rabiscadas na margem, uma assinatura na guarda do livro, uma folha seca usada como marcador, uma mancha de vinho reveladora. Quero dizer que cada livro foi gerado por uma longa sucessão de outros livros cujas capas talvez jamais tenhamos visto e cujos autores talvez jamais conheçamos, mas que ressoa naquele que temos em mãos. (...) Para além do sentido literal e do significado literário, o texto que lemos adquire a projeção de nossa experiência, da sombra, por assim dizer, de quem somos.” Alberto Manguel, Uma história da leitura.

Banco de dados para a bandidagem

Se você pensa num sequestro em série de criancinhas brasileiras, assista ao Bom Dia e Cia, programa infantil do SBT. Pura utilidade pública para a bandidagem. O programa em si é ótimo e dá de dez na chata da Xuxa. Bons desenhos - meu filho adora os repaginados Scooby e a Liga da Justiça -, um casal mirim de apresentadores muito simpático, brincadeiras que lembram as do tempo do Bozo. Então, para que estragar tudo, pedindo no ar que a criança diga seu nome e endereço completos. Com os dados ditos em voz alta no programa dá para escolher as melhores vítimas e planejar sequestros sem dar bandeira sobre a fonte de informação. Absurdo num tempo em que celular virou arma mortal, que dar o endereço é ato restrito e que a palavra de ordem é resguardo. Preservar e não devassar. Por isso, estou decidida a contatar a produção do programa e tirar satisfação.

quinta-feira, abril 12, 2007

Terrorismo pediátrico

Sempre achei que o pediatra era aquele que gostava de lidar com crianças e, consequentemente, acabava por desenvolver o tato para lidar com pais - no meu caso, com uma mãe neurótica. Se bem que eu descobri que isso não é privilégio meu: se é mãe, é neurótica.
Enfim, estou com a macaca. Levei o Lucas na tal da pediatra e além de ser maltratada e ter minha eterna culpa de mãe insuflada, ainda tive que ouvir da louca que a dor no pé do meu filhote podia ser fruto de um processo oncológico. Eu é que fiquei looooouca! Fui a trocentos ortopedistas, pedi exame, não dormi, examinei o pé do coitado quinze mil vezes, enchi o saco do meu marido e... surpresa: era apenas uma dor de crescimento de um moleque de 3 anos que já tem um metro e cinco centímetros de altura. Diga-se de passagem, graças a Deus, nisso ele puxou ao pai.
O diagnóstico final, para a louca e não para o meu filho, é que ela sofre da síndrome do terrorismo e adora fritar o cérebro de mães de primeira viagem.
Tudo bem. Superei. Troquei de pediatra. Escolhi um japonês no estilo zen. E a próxima consulta certamente será mais suave.
Salve o pé do Lucas que dói de tanta saúde!

Para quem Machado de Assis escrevia?


Tenho pensado muito sobre a criação de hábitos de leitura, especialmente os do século 19. Hoje, lendo um trecho de uma carta de Lúcio de Mendonça para Machado de Assis, fiquei matutando sobre o perfil do leitor contemporâneo de Machado. Numa época tão influenciada pela literatura européia, com acesso restrito à literatura, além de um taxa altíssima de analfabetismo. O público-leitor de Machado, com quem seus personagens dialogavam, não devia passar de meia dúzia de gatos pingados.

Ainda assim, ele não desistiu. Mas é bem verdade que mudou de tática de Iaiá Garcia para Memórias Póstumas. Ficou mais agressivo.

Isso tudo me deixa curiosa. Quem era esse leitor, o que lia, como lia, quando e onde lia.
????
Vou fuçar.