sexta-feira, outubro 27, 2006

Aquisição paulista

Entre a breja dos paulistas e a cerva dos cariocas, fico com os paulistas. O palavra bonita essa, BREJA. E tem mais ar de carioca, com suas brejeirices do que de paulista. Belíssima aquisição para o meu vocabulário. Palavra para falar com gosto e encher a boca.

Bipolaridade

Acho que a bipolaridade é o novo mal do século. 80% das pessoas que conheço se enquadram perfeitamente nas caracterícticas de uma pessoa bipolar e fazem até piada com isso.

Que estressado que nada. Cool agora é ser bipolar e se dar ao luxo de ir da euforia à depressão num passe de mágica.

Identidade

Um ano e quatro meses de São Paulo depois e me bateu uma síndrome do (i)migrante saudoso e desnorteado. Que nenhum paulista - desculpa, paulistano - me leve a mal, amo São Paulo e não me vejo morando de novo no Rio. Mas tenho sentido uma espécie de asfixia, um sufocamento típico de quem mora nas grandes cidades. E não falo aqui sobre poluição.

No Rio, com toda a vertiginosa violência, ainda que você não vá à praia, você sabe que ela está ali, passa pela via de carro e tem o mar como cenário. TEM HORIZONTE. O fato é que se trata de um horizonte meramente ilustrativo, contemplativo, porque a real chance de trabalho mora mesmo em São Paulo. E é aí, nesse ponto nevrálgico, que quero chegar. Eis o fruto da minha angústia: trabalho.

Parece que por essas bandas só se fala sobre isso. Falta um papo mais leve, de boteco, descompromissado, de Havaianas e pés sujos de areia de praia sem frescurites de assepsia. Tenho a impressão, ou melhor, venho constatando, que mesmo que você converse sobre tudo, o trabalho estará sempre ali, rondando os integrantes do bate-papo, pronto a dar o bote e tomar conta da conversa.

Eu adoro trabalhar, não é isso. Mais uma vez, não me entendam mal. Mas eu também adoro o tempo fora do trabalho, no qual relamente posso me abastecer de novas sensações, de emoções, de gente, de cultura. Começo a pensar que talvez esta seja a grande diferença entre paulistas e cariocas. Paulistas levam o trabalho tão a sério que parece que estão trabalhando até nas horas vagas. Cariocas precisam do tempo livre para trabalhar melhor, com mais entusiasmo.

Posso estar errada, isso tudo pode ser apenas um delírio comum de uma carioca um ano e meio de trabalho em São Paulo depois, mas o fato é que entrei numa neurose de trabalho e, mesmo quando vou ao Rio, é difícil falar de outra coisa. São Paulo tem o dom de conjugar scarpins e correrias desvairadas; de te fazer trocar o chá pelo café; e de te compelir a trabalhar ainda que a noite esteja no fim e filho e marido já estejam na cama, cansados de te esperar. Porém o mais duro é ter que aturar as grosserias de gente bronca que pensa que todo carioca é malandro, diz colé mermão e só veste cartola e terno branco com blusa de listras. Aí, sou obrigada a dizer que malandro é malandro e mané é mané, porra!

Ainda assim, algumas das amizades mais sinceras tenho feito por aqui. Com gente solitária, original daqui ou importada. Ninguém tem tempo para amigos, por isso mesmo os amigos que se faz ao longo do percurso são tão valorizados.

Para nao esquecer quem sou

Durante a infância fui impelida a ler "Polyana". Depois, na adolescência, foi a vez de "Polyana Moça". Livros que te dizem que ainda que tudo esteja uma bosta, sempre tem algum aspecto positivo com o qual você pode se agarrar. Quantas vezes ouvi essa mesma história da minha mãe, que tentava nos mostrar o lado bom do mundo, do ser humano. Daí, você cresce ao lado de tanta desgraça... É fome, miséria, violência, traição, um querendo comer o outro... E tem que se blindar de alguma forma, tem que aprender que o mundo não é feito só de gente boazinha. Pelo contrário. E agora, é minha vez de passar alguma esperança para o meu filho. Meu otimismo e esperança são incorrompíveis, mesmo nos momentos de maior desânimo e descrença.

CASA DOS 30

Acordei deprê como em toda véspera de aniversário. Não sei o por que, mas é sempre assim. Vai chegando o dia, vou ficando melancólica, deprimida, sensível e de saco cheio, com muita vontade de reviravoltas. Estou chegando aos 30 anos e acho que tenho pensado nisso nos últimos dois anos, o que foi bom já que amenizou a crise. E acho que apesar de ainda não ter alcançado uma série de resultados - que eu imaginava aos 18 anos-, cheguei aos 30 com muita dignidade. Sou uma mulher integral.