terça-feira, novembro 07, 2006

Panela velha e que faz comida boa

Capa da Ilustrada de domingo – com direito à continuação da matéria no miolo -, Regina Duarte se gaba de seus 40 anos de profissão e discute questões muito importantes para a teledramaturgia nacional, como as rugas que o software usado pela Globo consegue apagar. Um destaque imenso da Folha de São Paulo – que na mesma edição traz um caderno Mais impecável - para uma das atrizes mais malas da TV brasileira. Mas esse não é o tema principal desse texto. Convenhamos, não vou ficar perdendo tempo com Regina Duarte.

Cito a atriz porque na mesma Ilustrada, agora na contracapa, como uma ironia, o poeta Ferreira Gullar escreve um artigo lúcido, valorizando as rugas como um mapa de maturidade. Despretensioso, porém preciso, afiado e denunciador – como me parece Gullar. Ele segue na contramão do discurso de Regina. Mostra que a urgência por novidades é uma das ciladas, ou melhor, das regras desta versão de capitalismo moderna. Enquanto Regina se deslumbra com o poder cirúrgico do software mais moderno, Gullar constata e denuncia toda a tentativa de tornar conteúdo e valores rasos e liquefeitos.

Fiquei pensando nisso, porque faz parte do cotidiano. Sem perceber, você cantarola o que não quer – talvez a última novidade norte-americana; assiste e absorve programas e informações inúteis; e sai desfiando por aí uma cantilena de novidades que fazem de você alguém informado, antenado, cool. E quando a rotina não dá espaço para tanta novidade, você se sente entediado e corta o cabelo para evitar a depressão. A ditadura da novidade, Gullar tem razão, massacra qualquer possibilidade de crescimento, de maturação de idéias,

O velho, visto como obsoleto, é continuidade, é o tempo de digestão de toda a informação captada ao longo do percurso. Se não existe tempo para pensar e digerir as informações, elas se tornam desnecessárias, rasas, absorvidas apenas por osmose.

segunda-feira, novembro 06, 2006

As tiradas do Luquinhas

Tarde de domingo. Descansando do almoço. Deitados no sofá, eu e o Lu conversamos sobre o natal. A lista de presentes para a família é interminável e a gente vai brincando de levantar os nomes dos presenteados. Chega a vez da minha cunhada.

- Lu, vamos pedir para o papai do céu dar um bebê de presente para a tia B? É que o papai do céu sempre atende os pedidos das crianças.

- Então vou pedir para o papai do céu um menino grande, mãe.

Dou corda:

- Um menino grande? Como assim?

- É, mãe [diz ele irritado com a minha falta de entendimento. Tipo: mãe, sua burra]. Vou pedir um menino grande meu, da gente, para brincar comigo todo dia.

- Meu Deus, você quer um irmão? É isso? Da minha barriga?

- Isso, mãe. Eu quero um irmão da barriga. Grande, do meu tamanho para brincar comigo.

- Mas, filho, eles nascem pequenos e pode até ser uma menina. Vai demorar para ele crescer e a mamãe não vai fazer um bebê tão cedo.

- Pode fazer um bebê, mãe. Pode deixar, que eu ensino a fazer xixi no penico e não deixo o Bily arranhar ele.


Não falei mais nada. Ele se aproveitou para pedir um irmão para o papai do céu. E só tem 3 anos o safadinho. Filho único é mesmo muito solitário.