quarta-feira, novembro 11, 2009

esfera refletora


(ilustração: Escher)







Me vejo na esfera refletora de Escher
Eu, Borges e o outro
Poeira representada
Redemoinho ordenado
Tudo em composição pragmática


O que busco não é a mera confissão
Quero entender o que de meu
É no outro
Quero o Aleph de Borges
Indagações e mutismo


Investigo os cantos obtusos
Arestas e redondos
Ângulos de um ponto que mal posso ver
Se mantenho o corpo ereto
Se me apego ao polegar opositor.


É preciso desnaturar, desconhecer, deixar de ser
E então o caos se operará
Como um milagre em que as coisas sem ordem
Dissonantes
Passam a fazer sentido.

Fragmentos


Ilustração: Arthur Rackam



escrevo
como quem reúne cacos
ruínas do que fui
imagens corroídas
paradoxos
signos atualizados
resignificados


investigo sombras
cinzas
busco o deformado
margem
entre o real e o percebido
filetes de associação
articulados a bel prazer

alma-vômito

Minha alma
Muda
Contrai, insufla
Presa na garganta
Espessa e fofa
Matéria densa
Que o corpo expele

domingo, novembro 08, 2009

não-eu

desconhecido de mim
busco no que não sou
o que poderia
e é
apenas desejo

:"ano da comunicação"

:“ano da comunicação”


diziam os números
códigos de letras
com valores estanques
e não tive nada a dizer

remoí, remoí, remoí
sem respostas
sem ruídos audíveis aos outros
apenas algoritmos e cordas

nada do plano sabia

as vozes
as que diziam os números
queriam espaço
cavavam os ocos
visgavam olhos, ouvidos, estômago

ruminei, digeri,vomitei
comi

mastiguei as vozes
com o ódio de quem é descoberto
queria lhes dar fim
retesei cada arco
queria esgarçar
desnaturar
esvaziar

trancadas
– eu e as vozes –
travamos
corpo a corpo
marcas sem ruído
entranhas unhadas
mãos abatidas
boca esfaqueada

E agora
que o ano se esvai
rogo para que os astros
e os códigos mágicos
calem as infames
que habitam em mim