domingo, maio 28, 2006

ahhhhhhhh!

Às vezes, acho que vou infartar aos 40 anos, vítima de estresse. A verdade é que a mulher só se fudeu com essa história de direitos iguais, porque o dia-a-dia não tem nada de igualdade. A gente agora trabalha, escolhe uma profissão, se realiza profissionalmente ou não, mas continua com os deveres de casa, tendo que se dividir entre cuidar dos filhos, do marido - e olha que eu nem tenho do que reclamar -, da casa e ainda terminar o dia linda e perfumada. E o pior é que não dá mais para reverter o processo. Uma vez que você tenha ido à luta, não consegue mais voltar atrás e se tornar dona-de-casa. E quem é que quer ser dona-de-casa em pleno século 21, enquanto o mundo gira ao seu redor. Neste ritmo, não duvido muito que em pouco tempo as mulheres passem a ter a mesma expectativa de vida dos homens, que historicamente morrem mais cedo. Eles não são mais os únicos provedores da casa e o estresse é coletivo.

Me estresso com as birras do meu filho, com a imagem de uma pilha de louças para lavar; me estresso quando o ônibus demora mais do que cinco minutos, com a lerdeza da internet banda larga, com o barulho do secador da minha vizinha às 6h30, com o péssimo serviço de atendimento da TV por assinatura, e até quando esqueço de descongelar o jantar. Ando muito estressada e não estou sozinha: há uma legião de estressadinhos aí fora. Aliás, se você vai ao médico em busca de solução, de consolo que seja, a resposta é sempre a mesma, isso é estresse. Estresse e virose são os vereditos preferidos dos médicos. Acho que eles estão tão estressados que nem conseguem pensar em outra patologia. O remédio? Muito simples: "a senhora precisa se estressar menos, comer melhor, evitar a ansiedade, se exercitar e mudar de emprego". Hein?! Saio do consultório mais estressada do que nunca e resolvo que preciso de yoga. Logo lembro que o salário equivalente às 10 horas trabalhadas todos os dias, cinco vezes por semana, não me permite tal extravagância. Estou num beco sem saída: estressada com o meu próprio estresse e viciada neste ritmo de vida em que o almoço precisa ser devorado em vinte minutos. Mas preciso continuar porque ficar parado é um tédio só. Questões de quem vive a modernidade dos tempos...

quinta-feira, maio 25, 2006

Batman sem Robin


Ainda bem que o Batman do século 21 desconhece a existência do Robin.

Síndrome de Batman

Me desculpem os que amam o Batman. Nunca gostei do Batman. Sem superpoderes, com uma roupinha de quinta, brincando de morcegão. Um jovem com muito dinheiro e sem ter com o que gastar. Com um trauma e tormentos psicológicos- aliás, uma característica comum entre os heróis - irritantes. Pois bem. Para o meu azar, meu filho cismou que é a reencarnação do Batman e, em algumas ocasiões, não aceita nem ser chamado pelo nome. Uma criança de quase 3 anos. Ele tem a capa, o peitoral, enfim, indumentária completa do herói que me assombra.

Foi na Páscoa que eu descobri que este não é um privilégio só meu. Muitos outros pais sofrem deste mesmo mal. Os ovos que davam como brinde o carro do Batman se esgotaram em todas as lojas. O mesmo aconteceu com os bonecos e acessórios do morcegão. Na escola, a professora me contou que era uma febre entre a garotada - o Superman vinha em segundo lugar. Fiquei pensando no que fez com que uma legião de pequeninos, recém-saídos das fraldas, ficassem alucinados por um mesmo herói e cheguei à conclusão que não existe nenhuma teoria da conspiração. Está certo que a indústria aposta em alguns heróis, repagina os desenhos animados, colocando mais cor, aperfeiçoando o design, adequando a linguagem aos novos tempos; e aí produz batmans e acessórios em série, que pululam nas vitrines encantadas das lojas de brinquedos. Mas a culpa também é dos pais que, muitas vezes, cansados de um longo dia de trabalho, querendo um pouco de vida particular, deixam as crianças verem televisão indiscriminadamente. E este é um processo em cadeia porque mesmo quando você limita a TV, é obrigado a ceder algum tempinho a mais, que permita que o seu filho não pague mico no colégio e interaja com as outras crianças. Ele precisa ter seu próprio repertório para ser aceito em sua pequena sociedade. E você, que é mãe, que é pai, até acha bem bonitinho, o filhote correndo e gritando pela casa que vai acabar com o Coringa. Resumindo, eu que detestava o Batman, agora sou mãe de um morceguinho muito fofo. E, quem sabe em alguns meses ele terá se transformado no Wolverine - e olha que desse eu gosto.

quarta-feira, maio 24, 2006

crítica de sebo

O Matador, de Patrícia Melo

O salão de beleza poderia estar em Nova York, Berlim ou Tóquio. Não faria diferença. Atmosfera cheirando a sexo, ares de chumbo, como se uma tempestade estivesse prestes a irromper: este é o cenário no qual se descortina a cena mais importante - e talvez a menos original - de O Matador, livro publicado pela roteirista, dramaturga e escritora Patrícia Melo. O momento é de tensão, já que cumula o big ben da narrativa, e Gregor Samsa está prestes a virar barata e a perceber sua metamorfose. Parece Kafka, parece O Estrangeiro, de Albert Camus, mas, embora a intenção seja a mesma, o protagonista, Máiquel, está longe de ser um anti-herói. Jovem da periferia de uma grande metrópole, 22 anos, semi-analfabeto, Máiquel vê nos cabelos tingidos de louro a oportunidade de se tornar alguém. Ele se torna um matador. Um justiceiro, que aumenta as estatísticas de morte e violência em grandes centros urbanos em prol da paz na classe média. É esse o estopim criado por Patricia Melo: cabelos pintados de louro.

Daí a dizer que o livro é todo composto por personagens arquetípicos, costurados em torno do protagonista, não há mistério. Dono-de-botequim-cronista-do-cotidiano, mãe-solteira, mãe-viúva, cheirador, menina-de-15 anos-descolada, delegado-corrupto, patrão-chauvinista, burguesinha-viciada, moça-correta-e-trabalhadora- que-se-envolve-com-bandido. O cast de O Matador reúne tipos que permeiam o imaginário coletivo e se destacam cada um por uma “patologia” diversa. Tudo isso, arranjado entre citações eruditas e inventários enciclopédicos – lembra Rubem Fonseca? É, lembra. Aliás, segundo a própria Patrícia, Fonseca é uma espécie de mentor intelectual da escritora. A diferença é que o texto de Patrícia (pelo menos este) não faz aprofundamentos psicológicos e nem descrições do ambiente social. Tudo bem, “mea culpa”, ela tem todo o direito de não querer compor um romance psicológico ou social. Mas então, porquê enveredar por uma linha de filosofia de pára-choque? Patrícia romantiza o “bom selvagem”, cria um pensamento existencialista para ele, lhe dá um alto poder de análise do sistema social e lava a alma, faz as pazes com o social.

“Eu sou diferente, quando acordo, vou logo dizendo, ei, cachorro, enfia a cabeça embaixo do travesseiro porque hoje é um dia de merda e amanhã também vai ser um dia de merda...eu sou um homem cinza. Eu leio no jornal aquelas coisas todas, Iraque mantém movimento de tropa, refugiados fogem do Burundi para o Zaire, nada disso acontece comigo. Eu não estava no atentatdo que matou vinte e duas pessoas em Tel Aviv”. “Você sabe o que é um kamikase?...Kami quer dizer divino e kaze, vento. Vento divino, aquele almanaque que você me deu é mesmo do caralho. Os furacões que acabaram com as duas frotas de invasão mongóis tinham este nome, kamikaze. O mongol Kublai Khan teria engolido o Japão, se não fossem estes furacões, entendeu? Aí, na Segunda Guerra Mundial, os japoneses , que não sabiam o que fazer contra a tropa americana, que vinha a toda, pensaram nos kamikases. Só os kamikazes poderiam dar um jeito naqueles caras, os americanos”.

E mesmo com todas essas críticas, não há como omitir: Patrícia escreve bem. Linguagem enxuta, direta, ritmo vertiginoso, preocupação com o coloquialismo. Ou seja, prende a atenção pela fluidez do texto; pela maneira como costura os acontecimentos. Escrita sintonizada com o início do século 21, visual, seguindo um estilo “tudo ao mesmo tempo agora”. A autora nos coloca uma infinidade de informações, vai destrinchando-as à medida que a narrativa flui e, o melhor, os personagens fluem junto com a trama. Eles vão seguindo o seu caminho sem saber ao certo para onde vão, mas confiando na escrita da autora. A composição de O Matador, e não o enredo, mereceu premiação. O livro foi incluído entre os cinquenta Latin American Leaders for the New Millennium; e recebeu os prêmios Deux Océans e Deutsch Krimi.

Em 1929, a romancista Virgínia Woolf afirmou num de seus livros que, “para fazer literatura, a mulher antes precisa ter dinheiro e um teto todo seu”. Não que a mulher do século 21 não queira a mesma coisa, ser dona do próprio nariz, mas hoje ela participa do universo literário sem antes ter que apresentar sua carteira do clube da luluzinha, sem sofrer preconceitos por ser mulher. O fato é que homens e mulheres vêem o mundo de maneiras diferentes. E o matador da trama de Patrícia é diferente de todos os matadores delineados por Rubem Fonseca, porque é feminino. E são as mulheres os personagens mais fortes da trama. Érika, a amante de Máiquel, sim, é a justiceira.

Ao natural

Prazer! Esta sou eu, num momento São Paulo. É que sou carioca, daquelas que adora praia, Matte Leão, biscoito Globo, feijão preto, Baixo Gávea, amigos com muito chchchiado e andar de chinelo - liberdade para os pés! Não sou nada engomadinha! No maquiagem e no chapinha. Mas São Paulo está sendo uma ótima surpresa.

Estréia

Durante um bom tempo, tive vontade de criar um blog, mas não era uma vontade tão legítima assim. Misto de preguiça, falta de tempo - que continuo sem-, um pouco de acanhamento e muito trabalho com um filho de 3 anos, que solicita atenção integral. Enfim, aquelas questões que permeiam a vida de qualquer mulher deste século. Mas, a ficha caiu, e chegou o tempo de escrever. Bateu uma vontade de escrever sobre tudo o que me deixa com a orelha em pé; de falar de tudo e não falar de nada. Acho que cada um tem mesmo um tempo próprio e deve aprender a lidar com isso. Mas esse aqui não vai ser um blog de auto-ajuda ou de baboseiras pseudo-existenciais, pseudo-intelectuais... Vou falar do que me der na telha, vou postar os meus escritos, brincar de crítica literária... mas não me levem a sério, porque escrevo para me divertir um pouco.

cheguei

cheguei