Há dez anos atrás, louca, fiz uma tatuagem na casa de um hippie que vendia artesanato em Mauá. Do tipo descabelado, sequelado de maconha, mas com uma habilidade incrível para o desenho. Um escorpião no ventre que provocou arrepios na minha família, embora minha mãe tenha adorado; e que durante a gravidez cresceu tanto que se tornou ameaçador. Graças a Deus e ao óleo de amêndoas e uréia, o escorpião voltou ao tamanho normal com perfeição. E continua aqui, num local discreto, avistado de passagem entre um movimento e outro. Por que fazer uma tatuagem? De onde vem este desejo tão forte? Não sei. Fetiche, muito fetiche. Prazer de ver o corpo coberto por arte. Delícia de ver a reação alheia - positiva ou negativa - com a descoberta do desenho feito na pele à custa de dor e sangue - o que faz parte do ritual da tatuagem. Isto tudo e uma curiosidade, um fascínio por este mistério ancestral. Além disso, aquela parte do corpo até então quietinha e neutra, ganha vida própria e sobressai. Cores, geometrias, figuras são parte do repertório. Particularmente, prefiro os desenhos de traços finos, em tom preto, bem delineados, femininos e com uma forte simbologia. Gosto de geometria, de mistério e, principalmente, de simplicidade.
Muito tempo se passou entre a tatoo feita aos 19 anos e as duas feitas agora, seguindo a superstição do número ímpar de "rabiscos". Desta vez, o tatuador era um profissional de verdade e, mesmo assim, tive muito medo. Suei frio e percebi que ao longo dos anos minha coragem diminuiu. Segundo a amiga que me acompanhou no dia da tatoo, "isso é coisa de mãe. Você fica mais prudente e é só isso. Afinal, quem pariu faz qualquer coisa". Achei sábio e resolvi acreditar na tese dela, melhor que me achar covarde.
2 comentários:
Tá aí, Pri, vc falou tudo o que eu penso de tatoo. Afinal, quais foram os seus desenhos? O Olho de Hórus é seu? beijo Paulinha
Paulinha. Também estou com saudades. Quando vier pra cá, me diz. Eu fiz as duas tatoos de uma vez só que é para manter o número ímpar.
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