quarta-feira, julho 09, 2008

diálogos mudos



escrevo bobagens despretensiosas para me acalmar
esvazio a cabeça
dos diálogos intermináveis
comigo mesma


é preciso espaço
ar
para novas falas
para as minhas muitas vozes
eco sem fim
sem paz
as palavras mudas
aos outros
surdos
apenas aos outros
gritam


escrevo entre um almoço
15 minutos
laudas encomendadas
sisudas
previamente calculadas
laudas matemáticas
sem vigor nem poesia
escritas por dever
para comer, vestir
sobrevivência
laudas
sufocam a verdadeira escrita


quem replica poetas como vagabundos
desconhece o valor da não-ação
o tempo precioso
respirar
digerir
ordenar
vomitar
palavras encadeadas


quero o tempo do prazer
sem hora
lugar
amante imposto
comida tacanha
contado no relógio
e no bolso


a escrita que eu escolhi
a do prazer
sem tempo
caracteres programados
exigências
mentiras
profecias


mas as palavras
elas continuam aqui
e nem dormir eu posso
a cabeça
ela não pára
pronta para acordar
a qualquer hora
com os gritos dos diálogos
que por não serem capturados
transferidos
para um mundo real
adormecem
alheias e mudas
em sonhos de vapor

Um comentário:

Anônimo disse...

Simplesmente maravilhosa sua poesia... é você... Parabéns!!! Bjs